A MÚSICA DE BOB MARLEY

Através de sua música ele se tornou o maior símbolo da Jamaica: Bob Marley usou o reggae para cantar a liberdade, a paz e o […]

Através de sua música ele se tornou o maior símbolo da Jamaica: Bob Marley usou o reggae para cantar a liberdade, a paz e o amor. Com o sucesso mundial, ele ajudou a divulgar um movimento religioso que nasceu na ilha. O movimento Rastafári.

Ele conseguiu isso compondo boas canções que misturaram reggae e rock e viraram sucessos internacionais, e também ao abraçar o movimento político e religioso rastafári, defender o uso da maconha como forma de se aproximar de Deus (ou Jah, como os rastafáris chamam o Todo-Poderoso) e pregar contra a desigualdade social na Jamaica.

Como todo ídolo com algum envolvimento político que morre precocemente – no caso dele vítima de um câncer que não foi combatido a tempo por conta dos preceitos rastafáris -, não faltam teorias conspiratórias sobre o que aconteceu com Marley. Uma delas sustenta que o cantor e compositor jamaicano foi assassinado pela Agência Central de Inteligência (CIA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos por defender ideias esquerdistas. Mas, apesar de ser uma parte importante de sua vida, não foram as posições políticas de Marley – muitas delas reveladoras de uma visão pouco elaborada sobre os problemas jamaicanos – sua maior contribuição para o mundo, e sim suas canções.

Bob Marley foi o primeiro artista que nasceu e viveu num país pobre a fazer um estrondoso sucesso internacional e a influenciar vários artistas e gêneros no universo da cultura pop. Esse fato é mais do que suficiente para fazê-lo merecedor de toda a reverência que se tem por sua obra artística. Uma espécie de Bob Dylan tropical, ele fez canções de protesto baseadas nas sonoridades do rock e do reggae e tornou o ritmo jamaicano mundialmente conhecido e identificado com os movimentos de rebeldia jovem, a ponto de influenciar até o punk rock nos anos 70 e 80.

Como o reggae esteve intimamente associado à criação de uma identidade nacional pelo povo jamaicano, principalmente após a independência total do país em relação a Inglaterra nos anos 1960, a música de Bob Marley refletiu os principais temas que afligiam os jamaicanos, como a fome, a criminalidade urbana, a violência política, a brutalidade policial e a herança da escravidão. Conheça como foi a infância e a adolescência de Marley até ele ter seu talento musical descoberto:

Bob Marley e a invenção do reggae

Robert Nesta Marley nasceu em 6 de fevereiro de 1945 numa pequena vila no interior da Jamaica chamada Nine Miles. Filho de Norval Sinclair Marley, um administrador rural branco – que foi deserdado pela família por casar-se com uma mulher negra – e de Cedella Malcolm, filha de um próspero fazendeiro negro, Marley passou sua infância desfrutando da vida no campo nas terras da sua família em Nine Miles.

Seu pai abandonou sua mãe logo após o casamento e Marley praticamente não conviveu com ele, salvo por um breve período em que, quando era um pré-adolescente, Norval praticamente o sequestrou e o levou para morar em Kingston, capital da Jamaica. Fora isso, sua infância não teve grandes sobressaltos. Quando criança, ele conviveu bastante com seu avô materno que era chegado em temas místicos e tinha construído fama no interior do país por suas curas utilizando plantas medicinais. Foi nesse ambiente bucólico e com algumas pitadas de misticismo que o tímido e observador Marley começou a construir sua poética visão de mundo.

As coisas mudaram para valer quando ele teve de voltar a Kingston, desta vez levado por sua mãe. Eles ocuparam uma casa num conjunto popular subsidiado pelo governo na favela de Trench Town, uma das localidades mais pobres do país. Enquanto frequentava a escola local e aprendia o ofício de soldador, Marley entrou em contato com o ska, um gênero musical jamaicano que mistura música folclórica com jazz, rhythm’n’blues e ritmos africanos e caribenhos. Era início dos anos 60 e Marley começou a apreciar também o rock e a música negra norte-americana, como a das canções de Fats Domino. Com essas influências e uma guitarra improvisada, feita de bambu, fios de cobre e lata, ele começou a dar seus primeiros passos na música.

Ao deixar a pacata vida rural e se defrontar com a miséria, a violência e os sons da vida urbana em Kingston, Marley começou a formar na sua cabeça uma concepção musical inovadora que misturava o ska, o rock e o som negro norte-americano com letras que expressavam sua indignação com as injustiças ao seu redor. Os aforismos que aprendera com seu avô durante a infância inspiraram ele em sua primeira composição chamada de “Judge Not”, escrita em algum momento entre 1961 e 1962.

O talento de Marley já era notado por seus colegas. Um deles era Jimmy Cliff que conhecia o dono de uma loja de discos em Kingston chamado Leslie Kong, que às vezes atuava também como produtor dos grupos e artistas de ska. Kong levou Marley para o estúdio, onde gravaram “Judge Not”, uma balada agressiva, que se tornou o primeiro compacto lançado por Marley. A gravação serviu também para que um veterano músico jamaicano, Joe Higgs, descobrisse Marley e o colocasse junto com Peter Tosh, Bunny Livingstone, Junior Braithwaite e Beverly Kelso para formar um quinteto vocal nomeado “The Wailers”.

Em 1964, eles gravaram e lançaram um compacto com a canção “Simmer Down”, que rapidamente se tornou um sucesso em todo o país. Isso lhes rendeu um contrato de três anos com o selo do produtor Coxsone Dodd. Outros sucessos, como “Rude Boy”, prometiam bons rendimentos para os Wailers, mas eles receberam bem menos do que o esperado e em 1966 decidiram acabar com o grupo.

Marley partiu então para Newark, Delaware (EUA), onde sua mãe estava morando desde 1963. Lá trabalhou durante quase um ano em fábricas e outros trabalhos braçais. Em 1968, ao retornar para a Jamaica reuniu-se novamente com Peter Tosh e Bunny Livingstone para trazer o Wailers de volta. Desta vez, no entanto, por influência de sua esposa, a cantora Rita Anderson com quem havia se casado em 1966, Marley e a banda tornaram-se devotos do movimento rastafári. Nesse reencontro, o grupo começou a produzir uma nova sonoridade que alterava radicalmente o ritmo do ska e trazia para a música deles muitas influências do rock e da música negra dos Estados Unidos. Além disso, questões sociais e econômicas ganharam mais ênfase ainda em suas letras tornando as canções dos Wailers verdadeiros hinos de protesto na Jamaica. Nascia o reggae, um gênero que Marley tornaria popular no mundo inteiro nos anos seguintes.


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