Os animais são os irmãos inferiores dos homens.
Eles também, como nós, vêm de longe, através de lutas incessantes e redentoras, e são, como nós,candidatos a uma posição brilhante na espiritualidade.
Faz apenas trezentos anos que, neste país, autoridades religiosas garantiam que os escravos negros não possuiam alma, e portanto nada impedia que fossem torturados e mortos por seus donos.
As mulheres, também, para certa religião do Oriente Médio, não eram dotadas desse “apêndice” invisível.
A vítima não tem alma, portanto pode sofrer à vontade. E os animais, têm alma? Sofrem?
Não há um só reencarnacionista, seja de que corrente for – hinduista, budista, espírita, umbandista, teosofista, rosa-cruz, esotérico de qualquer corrente – que possa alegar o desconhecimento da Lei da Evolução.
E é difícil esconder a verdade – a verdade de que o caminho das Centelhas de Vida divinas – nós – é um só: via reinos mineral, vegetal e animal, humano e super-humano, da inconsciência para a Consciência Cósmica.
É assim que fomos, nos evos da evolução, aprendendo a ser gente. O animal de hoje será o humano amanhã – como o humano de hoje esteve no mesmo nível de ontem.
Não fora assim, que espécie de deus seria Deus?
Segue-se dessa Regra Geral Cósmica que somos todos irmãos. E que a única diferença entre nós e o animal – qualquer animal – é apenas cronológica. Eles só entram numa turma depois da nossa.
O adepto de uma religião tradicional, ou materialista, pode esconder-se atrás do argumento eles não têm nada a ver conosco”. Mas como uma pessoa que se diz reencarnacionista e adepta da Lei da Evolução, concilia essa noção de fraternidade de todos os seres vivos, com o exercício de crueldade que é matá-los e come-los?
Falta de instrução superior não é. O hinduismo é claríssimo a respeito. O budismo, idem. Todas as tradições iniciáticas do passado tinham como condição básica para o discipulado, o vegetarianismo. Os essênios, com os quais conviveu o Mestre Jesus, eram de um vegetarianismo estrito. Ele mesmo – vide os Manuscricos do Mar Morto – era o maior dos vegetarianos.
Não há sofisma capaz de atenuar o peso dessa contradição: aqueles que se dizem adeptos da clara Lei Cósmica da fraternidade sentarem-se à mesa e devorarem os despojos sangrentos do irmão menor, em nome exclusivamente do “prazer” gustativo, porque da saúde ou da sobrevivência não é!
Todos os “argumentos pró-carnivorismo dos adeptos dessas correntes têm um claro objetivo: tentar justificar de alguma forma a sua dificuldade pessoal de abandonar o consumo da carne.
Quanto às doutrinas chamadas esotéricas, é dispensável argumentar: qualquer espiritualista honesto mesmo sabe o que deve fazer a respeito!
Quanto os espíritas, se verifica com frequência uma falta de memória sobre os conceitos claros, de Kardec como dos mais abalizados instrutores da doutrina.
No Livro dos Espíritos, cap. XI, fica bem explicadinha a nossa irmandade com os menores irracionais:
Há nos animais um princípio independente da matéria, que sobrevive ao corpo: é também uma alma. Estão sujeitos como o homem, a uma lei progressiva. Emanam de um único princípio a inteligência do homem e a dos animais; no homem, passou por uma elaboração, numa série de existências que procedem o período a que chamais de Humanidade. Nesses seres (animais) o principio inteligente se individualiza, e entra então no período de humanização. Nessa origem, coisa alguma há de humilhante para o homem. Reconhecei a grandeza de Deus nessa admirável harmonia, mediante a qual tudo é solidário na natureza. Acreditar que Deus haja criado seres inteligentes sem futuro, fora blasfemar da sua bondade. Então, metre Allan Kardec, o velho iniciado dos templos do passado, deixou bem claro: os animais têm uma alma, que não só sobrevive ao corpo como evolui, destinando-se no futuro a ser humana. Viver para evoluir é uma necessidade deles. Amputar-lhes a vida, além de cruel, é um débito pesado para com a lei evolutiva. Nós deveríamos ser os protetores dessas consciências pequeninas, já que somos – você já pensou nisso? – as únicas “divindades” que eles conhecem. Somos os “Seres Superiores” deles. Mas, ainda acrescenta o Livro dos Espíritos:
À medida que o espírito se purifica, o corpo que o reveste se aproxima igualmente da natureza espiritual (…) e menos grosseira se lhe fazem as necessidades físicas, não mais sendo preciso que os seres vivos se destruam mutuamente para se nutrirem. (Cap. IV, pergunta 82).
Ora, preciso não é que o homem destrua nenhum animal para se nutrir. Deve seguir-se, pela lógica irrefutável do texto, que quando o faz, só pode tratar-se de um espírito pouco purificado, e de grosseiras necessidades físicas. E mais:
P – Tendo dado ao homem a necessidade de viver, Deus lhe facultou, em todos os tempos,os meios de o conseguir?
R – Certo. Essa a razão por que faz com que a terra produza de modo a proporcionar o necessário aos que a habitam, visto que só o necessário é útil. O supérfluo nunca o é.
(Cap. V, pergunta 703).
Idem, pergunta 737:
Toda destruição que excede os limites da necessidade é uma violação da lei de Deus.
Os animais só destroem para satisfação de suas necessidades; enquanto que o homem destroí sem necessidade.
Terá que prestar contas do abuso da liberdade que lhe foi concedida, pois isso significa que cede aos maus instintos.
Atenção, pois, espíritas: os animais são nossos irmãos menores, destruí-los é próprio de espíritos grosseiros, e uma violação da lei de Deus, um abuso desnecessário, fruto dos maus instintos, e do qual o homem terá que prestar contas, não tendo para isso qualquer desculpa, já que a terra lhe oferece tudo o que é necessário para sobreviver. Bem claro, não?
Outro esquecido de muitos espíritas é o belo texto do “Irmão X”, intitulado “Treino para a Morte”, do livro Crônicas do Além Túmulo:
Comece a renovação de seus costumes pelo prato
de cada dia. Diminua gradativamente a volúpia de comer a carne dos animais. O cemitério na barriga é um tormento, depois da grande transição.
O lombo de porco ou o bife de vitela, temperados com sal e pimenta, não nos situam muito longe dos nossos antepassados, os tamoios e caiapós, que se devoravam uns aos outros.
Sugiro encarecidamente que o amigo leitor leia, ou releia, com a maior urgência possível, o capitulo inicial de Fisiologia da Alma, “A alimentação carnívora e o vegetarianismo”, de Ramatís.
Talvez tenha chegado o seu momento áureo de liberdade…
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