Conhecida por seus espetáculos grandiosos, a companhia Cirque du Soleil cresce sem parar. O circo moderno, como muitas vezes é descrita a companhia, já passou pelo Brasil algumas vezes. Oriunda do Canadá, a companhia atua no mundo todo, com espetáculos fixos nos EUA e itinerantes pela Europa e Américas.
A empresa recruta artistas em todos os cantos do planeta e hoje emprega cerca de 5.000 pessoas, entre os quais, 142 são instrumentistas e 45, cantores.
Contatamos alguns dos músicos brasileiros que atuam em espetáculos do Cirque du Soleil para saber como é o mercado para o músico na companhia, quais os desafios e outras curiosidades sobre trabalhar numa empresa dessa dimensão.
Os brasileiros com quem conversamos para realizar esta matéria são: Daniel Baeder (bateria), Cesar Farias da Silva (percussão) e Alex Reis (bateria). Eles fazem parte dos espetáculos Ovo e Dralion, ambos em cartaz na América do Norte. Os três músicos, cada um a sua maneira, enfatizam que o trabalho requer disciplina e dedicação e que um dos pontos fortes de trabalhar no Cirque du Soleil é poder viver da arte com dignidade. Mas o que mais chama a atenção é a satisfação que eles têm em trabalhar no Cirque du Soleil.
Profissão e dignidade
Não é novidade que um brasileiro encontre dificuldades quando pretende fazer da música sua profissão. Temos ótimas escolas de música e os instrumentos musicais estão mais acessíveis hoje do que há algumas décadas. Mas, e para pagar as contas no final do mês como faz qualquer outro profissional sério e dedicado?
É o baterista Alex Reis, que atua no espetáculo Dralion, quem melhor define essa situação: “Em alguns países mais, em outros menos, mas sempre acontece da mesma forma. Se você não se sustenta através de sua arte, existe uma pressão social grande com o artista. Estas situações me ajudaram a acreditar cada vez mais em meu potencial e em meu sonho de poder viver dignamente como artista. Trabalhar no Cirque Du Soleil para mim é uma benção, o resultado de todos estes anos de dedicação à arte e o que sempre busquei como músico e artista.”
Os três músicos brasileiros também comentam que o Cirque vai além de um emprego: “Na minha profissão já fiz quase tudo o que podia, toquei vários estilos de música com vários artistas e em diversas situações diferentes. O músico que toca no Cirque tem uma grande experiência não só relacionada à profissão, mas de vida. Com certeza é um peso a acrescentar ao seu currículo, mas também à sua vida de um modo geral” conta Daniel Baeder, integrante do Ovo.
Já o cantor Mathieu Lavoie, há 15 anos na companhia, falou sobre a oportunidade artística e profissional que é trabalhar no Cirque: “Seja na criação ou na performance, ser músico no Cirque du Soleil é uma verdadeira realização. No Varekai, na parte de criação, temos Violaine Corradi [N.E: compositora italiana que já fez trilhas para cinema e para outros espetáculos do Cirque du Soleil] que misturou diversos elementos musicais, de variados estilos e culturas. E nós, músicos, trabalhamos juntos nessa criação, especialmente na parte de arranjos. É incrível.”
Ainda que as letras não tenham um conceito já que as músicas são cantadas numa língua inventada, Mathieu acredita que elas ajudam a “espalhar a mensagem”, juntamente com as performances e acrobacias dos demais artistas.
Esse sentimento de realização profissional resulta do fato da música no Cirque du Soleil ser mais que uma simples trilha sonora – algo que poderia dispensar músicos tocando ao vivo. A música nos espetáculos do Cirque é feita exclusivamente para as apresentações, é escrita para cada cena.
Para o diretor artístico do espetáculo Varekai, Mathieu Gatien, a música no Cirque du Soleil deve transcender a emoção. Ela tem a responsabilidade de tornar grandiosas as cenas, dar vida aos números, acrobacias e danças.
Dedicação
A declaração de Daniel deixa clara a importância da dedicação para acompanhar esse circo: “O trabalho é árduo. Temos uma rotina de oito a dez shows por semana. Chegamos uma hora e meia mais cedo, fazemos um ‘sound check’ todos os dias e depois nos maquiamos, fazemos o show de 2 horas de duração (de quinta a domingo são dois por dia) depois voltamos para casa.”
Os espetáculos são ensaiados exaustivamente e, uma vez em cartaz ou em temporada, não há tempo para mais nada. A dedicação e envolvimento do músico deve ser total. “Para conseguir realizar meu sonho descobri muito cedo que as palavras ‘disciplina’, ‘organização’, ‘diligência’, ‘educação’, ‘respeito’ e ‘suor’ devem estar sempre presentes em minha mente e em minhas atitudes, todos os dias”, conta Alex.
Experiência de vida
Para os instrumentistas, o Cirque du Soleil é uma experiência quase existencial: “Na verdade quando você entra no Cirque, já esta convivendo com o mundo de uma maneira diferente. O contato com outras culturas engrandece o seu ponto de vista em relação à própria existência” conta Daniel.
É Alex quem completa: “No Brasil estive trabalhando profissionalmente com música durante 27 anos e nos últimos anos estava muito bem empregado tocando com Sá e Guarabyra, Samy’s Band Evolution, Mauro Hector, Fábio Jr, Casa de Marimbondo (…) mas posso afirmar que viajar o mundo com o melhor circo do planeta, realmente é uma experiência emocionante. Não somente pelos lugares formidáveis pelos quais passamos, mas pelas pessoas com quem convivemos na equipe”.
Para Mathieu Lavoie, cantor de profissão que atua no Varekai, o Cirque du Soleil é uma escola: “Ensaiar e cantar todas as semanas é um treino sem comparação. Fazer parte de algo maior também é um ponto positivo e de destaque no trabalho do músico no Cirque. Não é apenas cantar num palco, mas cantar para que todo um espetáculo, de luzes, cores, dança e magia faça sentido”.
O prazer de ser músico
“Minha filosofia é a seguinte: se tocar bateria não fosse divertido, não teria nem começado 30 anos atrás. Sempre me divirto muito tocando e esta é a mola propulsora em toda minha carreira. Tocar um instrumento é um ato de amor à arte, à música, a você mesmo e às pessoas que estão lhe ouvindo”. A filosofia de Alex talvez sirva para todos os músicos.
E para o percussionista Cesar Farias da Silva, também do espetáculo Ovo, “É uma experiência maravilhosa viajar com o Cirque du Soleil. Profissionalmente isso não tem preço. Sem falar na experiência de vida, de trabalhar no meio de pessoas do mundo inteiro, conhecendo os Estados Unidos, conhecendo a cultura desse país. Isso pra mim e pra minha família é maravilhoso.”
Daniel Baeder, Cesar Farias da Silva e Alex Reis foram contratados após enviarem material para o Cirque du Soleil e serem selecionados pela equipe da empresa após avaliação. O Cirque du Soleil continua recrutando músicos e cantores por todo o planeta. Saiba mais sobre a seleção do Cirque du Soleil.
FONTE: TERRITÓRIO DA MÚSICA
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