plasma covid19

Esperança na Pandemia

A FDA dos EUA (Administração de Alimentos e Drogas em português) aprovou o uso experimental de sangue de pessoas curadas do COVID-19 como tratamento para […]

A FDA dos EUA (Administração de Alimentos e Drogas em português) aprovou o uso experimental de sangue de pessoas curadas do COVID-19 como tratamento para pacientes infectados.

As autoridades de saúde chinesas iniciaram este procedimento em meados de fevereiro de 2020, pedindo para que as pessoas que se recuperaram do novo coronavírus doem sangue para extrair o plasma com o objetivo de tratar os doentes que ainda se encontram em estado grave.

Alguns médicos já estão usando infusões de plasma sanguíneo de pessoas que se recuperaram do coronavírus para tratar aqueles que ainda lutam contra a infecção. O método é apontado como uma solução enquanto os laboratórios farmacêuticos ainda estão em busca de desenvolverem um tratamento e uma vacina contra o vírus.

Conhecida como terapia de plasma convalescente, o tratamento remonta ao final do século XIX, e os médicos de hoje creem que pode ser a solução provisória que necessitamos para conter o vírus enquanto são desenvolvidos tratamentos e vacinas.

Método pioneiro

Na década de 1890, o cientista alemão Emil Behring  foi pioneiro na implementação de um novo tratamento para a difteria. Behring, juntamente com o médico japonês Kitasato Shibasaburo, descobriu que o soro sanguíneo de animais infectados com certas toxinas poderia ser usado em humanos para tratamento de várias doenças.

Behring descreveu na época essas moléculas protetoras como “antitoxinas” e passou o resto da década otimizando o processo, acabando por descobrir que os cavalos eram o animal mais eficiente para produzir grandes volumes de soro de antitoxinas.

Em 1901 Behring ganhou o primeiro Prêmio Nobel da Medicina por seu trabalho sobre essas terapias com soro para difteria.
Ao longo das primeiras décadas do século XX, o tratamento ficou conhecido como terapia plasmática convalescente, sendo frequentemente utilizado em tempos de surto de doenças infecciosas.

Os produtos sanguíneos de pacientes recuperados eram tratamento comum para tudo, desde sarampo e papeira até poliomielite, tendo sido amplamente utilizados durante a pandemia de gripe espanhola em 1918.

bolsas de sangue e plasma
bolsas de sangue e plasma

Um estudo de 2006 mostrou que essa terapia reduziu significativamente as taxas de mortalidade, de 37% entre os não tratados para 16% entre os pacientes tratados com plasma convalescente. A descoberta de antibióticos e o desenvolvimento de vacinas tornariam este método obsoleto.

Funcionou então, pode funcionar agora
No início dos anos 2000, um novo coronavírus respiratório apareceu na China. Perante um vírus inteiramente novo, com uma elevada taxa de mortalidade e sem opções de tratamento, médicos em Hong Kong conduziram um estudo de plasma convalescente improvisado, inspirado em estudos de casos similares recentes fora de África, e que tinham demonstrado potencial eficácia no tratamento do vírus ebola.

A taxa de mortalidade total entre os pacientes tratados foi de 12,5 por cento e a geral em Hong Kong de 17 por cento. A ilação mais importante foi que os mais precocemente tratados apresentaram melhores índices do que aqueles que receberam o tratamento mais tarde.
Um estudo mais recente sobre os efeitos da terapia plasmática convalescente, que incorpora relatórios clínicos desde a gripe espanhola até a SARS, detectou uma impressionante redução de 75% na mortalidade geral entre os doentes tratados com essa terapia.

Medida provisória

O imunologista Arturo Casadevall  reacendeu a ideia do plasma convalescente, após relatos de que o tratamento estava sendo testado na China. Casadevall não só propôs a terapia centenária como um tratamento precoce potencialmente útil em pacientes recentemente diagnosticados com o vírus, mas também como profilaxia útil para os profissionais de saúde e para membros de famílias que cuidam de pacientes com COVID-19 em casa.

Casadevall e sua equipe da Universidade Johns Hopkins, nos EUA, rapidamente começaram a investigação, tendo a FDA respondido prontamente alguns dias depois, não só acelerando as aprovações de ensaios clínicos de plasma convalescente, como também permitindo disposições imediatas de uso compassivo. Isto possibilita aos médicos ter a capacidade de administrar o tratamento a pacientes fora das limitações de um ensaio clínico, desde que certas condições sejam satisfeitas.

Ainda há muitas questões que precisam de ser respondidas antes que o tratamento possa ser amplamente implantado.
Quantos anticorpos precisam ser detectados no sangue dos pacientes recuperados para que o tratamento sérico seja eficaz? Qual é a quantidade de plasma convalescente que precisa ser administrada para tratar a doença? Qual é o momento ideal para administrar o tratamento? O tratamento oferece alguma imunidade confiável em pacientes que não contraíram o vírus?

Os cientistas não esperam encontrar com isso a cura para a COVID-19, mas somente algo que ajude a mitigar o fenômeno enquanto não houver tratamentos e vacinas.

Produzir e implantar tratamentos de plasma convalescente requer apenas redes de bancos de sangue pré-existentes. O atual sistema de coleta e fornecimento de sangue nos Estados Unidos poderia ser rapidamente mobilizado para começar a coletar doações de pacientes recuperados da COVID-19.

Quando Casadevall e seus colegas possam verificar a melhor prática para o tratamento, o plasma convalescente poderia ser estendido a um enorme volume de pacientes em meses, achatando a curva de transmissão e ganhando mais tempo para os cientistas trabalharem em uma vacina eficaz.

Posição da OMS

Mike Ryan, chefe do programa de emergências em saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS) disse que o método é válido, mas que é importante acertar o tempo de aplicação do plasma para que ele seja eficiente à imunidade dos pacientes.

O plasma de ex-pacientes que foram infectados pelo coronavírus contém anticorpos que podem reduzir a carga viral em pacientes graves, explicou a Comissão Nacional de Saúde da China durante uma coletiva de imprensa, realizada em 17/02/2020.

Pedido de doação de plasma
“Gostaria de pedir aos que se recuperaram que doassem seu plasma. Ao fazer isso, dariam esperança àqueles que ainda estão gravemente doentes”, disse Guo Yanhong, funcionária da Comissão Nacional de Saúde chinesa.

Em Wuhan, epicentro da epidemia, onze pacientes receberam transfusões de plasma no finla de fevereiro, anunciou o Ministério da Ciência e Tecnologia da China.

“Um deles já voltou para casa, outro conseguiu se levantar e andar, e os outros estão se recuperando. Os ensaios clínicos mostraram que as transfusões de plasma (de pacientes curados) são seguras e eficazes”, disse Sun Yanrong, pesquisadora do centro biológico do Ministério.
Em uma postagem em uma rede social, o China National Biotec Group afirmou que os pacientes que receberam transfusões de plasma viram sua condição “melhorar em 24 horas”.

“Apenas o plasma será usado, os outros componentes do sangue, incluindo glóbulos vermelhos e plaquetas, serão restituídos aos doadores”, completaram.

Fonte OMS


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