Em 1988, o professor John Boys, da Universidade de Auckland (Nova Zelândia), construiu o primeiro protótipo de fonte de alimentação elétrica que dispensava contato físico com os equipamentos alimentados.
A tecnologia foi patenteada pela empresa da universidade onde foi criada. Em 2008, a Intel Corporation conseguiu reproduzir os modelos de Tesla e do grupo de John Boys, acendendo uma lâmpada sem usar fios, com luminosidade satisfatória. Nos EUA, o vanguardista Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) lidera as pesquisas no campo. Um invento do professor croata Marin Soljacic faz funcionar uma tevê colocada a 1,5 metro do transmissor.
Para carregar o celular, basta colocá-lo sobre o braço da poltrona. Tecnologias distintas Já existem empresas oferecendo ao mercado tecnologias capazes de transmitir, com segurança, a energia pelo ar. O objetivo principal é desobrigar aparelhos criados para ser portáteis – como celulares, tablets e notebooks – de recarregar as baterias constantemente. Os experimentos atuais se baseiam em três tecnologias: acoplamento indutivo, radiofrequência e ressonância acoplada magneticamente.
A Fulton Innovation, de Michigan (EUA), criou o sistema eCoupled, já disponível para a polícia, o corpo de bombeiros e equipes de resgate. Trata-se de um aparelho de acoplamento indutivo sobre o qual podem ser colocados artefatos móveis para ser recarregados magneticamente. O sistema de radiofrequência, por sua vez, tem a vantagem de trabalhar com distâncias maiores, de até 26 metros, pois a eletricidade é transformada em ondas de rádio captadas por um receptor, que as converte novamente em corrente de baixa voltagem.
A radiofrequência já está sendo usada pelo Departamento de Defesa dos EUA e em breve estará disponível em pequenos aparelhos domésticos. Nikola Tesla, o pioneiro Precursor da eletricidade sem fio, Nikola Tesla, nasceu em Smiljan (atual Croácia), em 1856, e naturalizou-se norte-americano. Só agora, 100 anos depois, suas invenções estão sendo reconhecidas. Tesla aperfeiçoou o sistema de transmissão de energia por cabos, criando a corrente alternada em substituição à corrente contínua, estabelecida por Thomas Alva Edson.
Também contribuiu para o desenvolvimento da robótica, do controle remoto, do radar e da ciência computacional. Foi um homem de personalidade excêntrica e adiantada demais para seu tempo. Morreu pobre e esquecido aos 86 anos, em 1943.
Já a ressonância acoplada magneticamente foi inventada por Soljacic, que a denominou WiTricity. Ela é capaz de fornecer eletricidade para um aposento no qual haja aparelhos com receptores próprios para captála. Tanto o sistema eCoupled quanto o WiTricit usam duas bobinas, uma energizada e outra não.
A vantagem do sistema WiTricit é que elas não precisam estar próximas para a transferência de energia, pois este utiliza o princípio da ressonância magnética. O objeto a distância, porém, precisa estar corretamente sintonizado com o transmissor para funcionar.
Nesse sistema, apenas uma bobina energizada pode fornecer eletricidade sem fio para toda a residência. A ressonância magnética energiza mesas de escritório e vários tipos de aparelhos, como liquidificadores, celulares, tablets e furadeiras. Outras empresas, como a WiPower, da Flórida, e a Powercast, de Pittsburgh, também pesquisam usos práticos para essa tecnologia.
A fim de que a energia não vaze de uma residência para outra, estão em estudo formas de controlar o alcance e a intensidade do campo magnético e o uso de metais para bloquear a transmissão. Novidades Já estão disponíveis produtos que usam energia sem fio. Um deles é o carregador Palm do smartphone HP Pre Touchstone. O usuário só precisa colocar o dispositivo em cima do carregador, pois ímãs posicionam corretamente o aparelho, que é carregado sem qualquer fio conectado a ele. A Sanyo desenvolveu para a estação de jogos eletrônicos Nintendo Wii um carregador que dispensa o contato com a bateria para carregá-la.
A Fu Da Tong Technology, de Taiwan, oferece produtos que funcionam com eletricidade sem fio, entre eles chinelos que se conservam aquecidos – quando esfriam, basta deixá-los em cima do tapete carregador. A Fulton Innovation produz o eCoupled, aparelho com duas bases para carregar celulares e outros aparelhos móveis. Uma delas, ligada à tomada, transmite energia à outra, instalada em um ponto qualquer da casa ou do escritório. Para carregar, basta colocar na segunda base. A empresa já licenciou a tecnologia para grandes fabricantes e possui 300 patentes de equipamentos, aprovadas ou em estudo.
Chinelos sempre aquecidos e o Nintendo Wii, que carrega sem bateria. Abaixo, a sopa aquecida na embalagem e os cereais que brilham para o consumidor. Uma tevê que funciona por ressonância magnética foi mostrada pela empresa japonesa Sony na CES de 2011. Ela dispensa o uso de fios alimentadores e cabos de aparelhos acoplados a ela, como DVDs. A holandesa Philips também já possui produtos que aproveitam a tecnologia de energia elétrica sem fio para carregar a bateria dos aparelhos.
Barbeadores e escovas de dente elétricas já estão disponíveis com a nova tecnologia. Já existem sopas que podem ser aquecidas na própria embalagem: a energia elétrica enviada pelo ar é recebida por uma pequena espiral de metal, instalada na base do copo e transformada em calor. Até caixas de cereais podem usar indução magnética: quando o consumidor se aproxima, o magnetismo faz acender LEDs e a embalagem chamar a atenção com efeitos de luz. A Philips pretende criar um sistema universal, padronizando a faixa de transmissão dos dispositivos Wi- Tricity e dos aparelhos eletroeletrônicos e eletrodomésticos, desenvolvendo as determinações do Wireless Power Consortium, criado em 2008 a fim de regular os padrões para essa nova tecnologia.
Pesquisadores também estudam a transmissão da eletricidade sem fio em aparelhos maiores, como veículos. Um instituto de tecnologia sulcoreano desenvolveu o protótipo de um ônibus que capta a energia pelo ar fornecida por fibras subterrâneas. O veículo chegou a percorrer mais de dois quilômetros usando apenas 400 metros de pontos de energização. A montadora japonesa Nissan está investindo num sistema de energia por indução capaz de carregar seus automóveis elétricos. A ideia é pôr fibras emissoras de campos eletromagnéticos sob o asfalto para energizar os carros.
A Toyota também está formando parcerias com empresas que desenvolvem eletricidade sem fio. A empresa londrina HaloIPT, por sua vez, desenvolveu um carregador sem fio para carros elétricos que deverá estar à venda em até três anos. Cautela No Brasil, a eletricidade sem fio é vista com cautela. Embora haja teses universitárias sobre o tema, o Centro de Pesquisas de Energia Elétrica, ligado à Eletrobras, ainda não realiza nenhum trabalho nesse campo. Os cientistas brasileiros estão esperando os resultados sobre a viabilidade econômica das pesquisas lá fora. Há dúvidas quanto à confiabilidade da nova tecnologia e aos efeitos do campo eletromagnético na saúde, embora os fabricantes internacionais garantam segurança total.
O MIT ainda não detectou em seus testes danos a celulares e outros aparelhos eletrônicos portáteis ou em cartões com tarja magnética, mas admite que o assunto deve ser mais estudado. O professor José Roberto Cardoso, especialista em eletromagnetismo da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, considera que a transmissão da eletricidade sem fio ainda esbarra em fatores limitantes: custo (viabilidade econômica), grande perda da energia gerada (que chega a ser de até 40% em alguns casos) e impossibilidade de se gerar campos eletromagnéticos de grande potência. “Esse último fator”, especula, “pode impedir que a energia magnética seja usada em projetos maiores, como baterias dos carros elétricos”.
Cardoso explica que o sistema funciona bem com baixa potência, como em celulares e notebooks. Para gerar grande volume de energia, o campo magnético teria de ser intenso, o que ocasionaria descargas elétricas no ar, pondo em risco a saúde humana.
No caso dos campos de baixa frequência, eles podem ser adaptados de modo a respeitar as recomendações e os limites de radiação para os seres humanos fixados pela Organização Mundial da Saúde. Os fabricantes internacionais contra-argumentam dizendo que os campos magnéticos têm força semelhante à dos que existem naturalmente na Terra. Por isso, a baixa densidade dos sinais emitidos pelos dispositivos quase não interage com organismos vivos. Outra questão é o baixo rendimento do processo: é preciso gastar quase 2.100 watts na emissão para gerar apenas 10 watts na recepção.
Cardoso vê pouca utilidade no uso para eletrodomésticos, pois o gasto com a instalação de grandes bobinas geradoras limitaria o processo. “Por enquanto é mais econômico ligar liquidificadores, torradeiras e tevês na tomada”, afirma. Mas tudo indica que a eletricidade sem fio veio para ficar e irá conviver com a conexão tradicional nos próximos anos.
fonte: www.revistaplaneta.terra.com.br