Anos 1960: tempos de esperançar, e tempos terríveis.
Depois da experiência de alfabetização em Angicos, Rio Grande do Norte, 1963, do lançamento do Programa Nacional de Alfabetização do governo federal, 1964, Paulo Freire à frente do Programa, acontece o golpe militar de 1964: fim da liberdade e da democracia, prisões, assassinatos, exílio.
O educador Paulo Freire é preso e, libertado, vai para um longo exílio.
Anos 2020: tempos de esperançar, e tempos terríveis. O neofascismo está aliado ao ultraneoliberalismo no Brasil e na América Latina, democracia ameaçada mais uma vez.
Paulo Freire, declarado Patrono da Educação Brasileira em 2014, corre o risco, simbolicamente, de ser preso de novo e de ter que se exilar. O atual presidente da República exalta publicamente o golpe de 1964 e a ditadura militar.
Neste contexto e conjuntura, o CEAAL, Conselho de Educação Popular da América Latina e Caribe, cujo primeiro presidente foi Paulo Freire, lança a Campanha Latino-americana e Caribenha em Defesa do Legado de Paulo Freire.
E em 19 de setembro de 2020, abrem-se, dentro das atividades da Campanha, as comemorações do centenário de Paulo Freire, que faria, ou fará, 100 anos em 19 de setembro de 2021.
A pedagogia de Paulo Freire é libertadora. Ela parte sempre da realidade onde as pessoas vivem, convivem. Ação-reflexão-ação. Prática-teoria-prática. Reflete-se sobre a ação para acontecer uma nova ação, mais transformadora.
Parte-se de uma prática, teoriza-se sobre ela, para construir novas práticas, mais transformadoras. Por isso, é uma pedagogia conscientizadora, que transforma o mundo, aponta para o sonho, a utopia. Não é esperar as coisas acontecerem. É esperançar na ação de transformação social, econômica, ambiental, cultural, de cuidado com a Casa Comum.
É tempo de esperançar na América Latina de Che, de Carolina de Jesus, de Casaldáliga, de Allende, de Sepé Tiaraju, de Frida Kahlo, de Zumbi, de Frei Tito, de Margarida Alves, de Darcy Ribeiro, de Florestan Fernandes, de Violeta Parra, de Celso Furtado, de Dorcelina Folador, de Eduardo Galeano, de Fidel, de Domitila, de Sandino, de Celia Sanchez, de Tiago de Mello, de Dandara dos Palmares, de Pablo Neruda, de tantas educadoras, tantos educadores, revolucionárias, revolucionários, lutadoras e lutadores da liberdade, da justiça, da paz, da cidadania, dos direitos humanos, da democracia.
Paulo Freire escreveu: “Eu sou um intelectual que não tem medo de ser amoroso. Amo as gentes e amo o mundo. E é porque amo as pessoas e amo o mundo, que eu brigo para que a justiça social se implante antes da caridade.”
Quando, décadas atrás, surgiu a ideia de criar um Instituto Paulo Freire, para preservar sua obra e espalhar sua pedagogia, perguntaram-lhe se ele aprovava a ideia e a proposta. Paulo Freire respondeu: “Se é para me repetir, não criem.
Mas se for para me superar e me reinventar cada dia, tem todo meu apoio.” É o desafio da Campanha Latino-americana e Caribenha em Defesa do Legado de Paulo Freire e das celebrações do seu centenário, de 19 de setembro de 2020 até 19 de setembro de 2021: reinventar a pedagogia libertadora e transformadora de Paulo Freire.
Todas e todos convidadas/os: 19 de setembro de 2020, 19h, na página do CEAAL nas redes sociais, iniciam as celebrações do centenário com um ato político-cultural, com participação de Oscar Jara, Nita Freire, Frei Betto, Rosa Zuniga, Pedro Pontual, entre outras e outros convidadas e convidados.
1 ano para reinventar Paulo Freire. 1 ano para ler e reler a Pedagogia do Oprimido. 1 ano de Educação como Prática da Liberdade. 1 ano de Pedagogia da Autonomia. 1 ano de Pedagogia da Indignação. 1 ano para escrever Cartas Pedagógicas à la Paulo Freire. 1 ano de ESPERANÇAR.
Paulo Freire não será mais preso. Paulo Freire não irá de novo para o exílio. Paulo Freire vive!
Fonte: Brasil de Fato
“O respeito à autonomia e à dignidade de cada um é um imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros. (…) É nesse sentido também que a dialogicidade verdadeira, em que os sujeitos dialógicos aprendem e crescem na diferença, sobretudo, no respeito a ela, é a forma de estar sendo coerentemente exigida por seres que, inacabados, assumindo-se como tais, se tornam radicalmente éticos. É preciso deixar claro que a transgressão da eticidade jamais pode ser vista como virtude, mas como ruptura com a decência. O que quero dizer é o seguinte: que alguém se torne machista, racista, classista, sei lá o quê, mas se assuma como transgressor da natureza humana. Não me venha com justificativas genéticas, sociológicas ou históricas ou filosóficas para explicar a superioridade da branquitude sobre a negritude, dos homens sobre as mulheres, dos patrões sobre os empregados. Qualquer discriminação é imoral e lutar contra ela é um dever por mais que se reconheça a força dos condicionamentos a enfrentar.”
Paulo Freire Pedagogia da Autonomia, 1996.
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