PERGUNTAS e RESPOSTAS SOBRE FELICIDADE INTERNA BRUTA

(1) De onde surgiu o conceito de Felicidade Interna Bruta – FIB? O conceito de Felicidade Interna Bruta (FIB) surgiu em 1972, quando o então […]

(1) De onde surgiu o conceito de Felicidade Interna Bruta – FIB?
O conceito de Felicidade Interna Bruta (FIB) surgiu em 1972, quando o então rei do Butão, com apenas 17 anos de idade, declarou “A Felicidade Interna Bruta é mais importante do que o Produto Interno Bruto”. Desde aquela época esse conceito foi adotado pelas Nações Unidas, e uma série de projetos têm sido patrocinados pelo PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento visando a implementação do FIB no Butão e sua disseminação
pelo mundo.
Em 1999 o governo do Butão inaugurou o Centro para Estudos do Butão (CBS em inglês), cujo objetivo é o de desenvolver o FIB como um abrangente indicador sócio- econômico, que inclua a questão da sustentabilidade ambiental. Com a contribuição de um grupo internacional de especialistas o CBS formulou o questionário do FIB, que foi usado em diversos levantamentos de âmbito nacional para medir o FIB estatisticamente. A Comissão de Planejamento de FIB usa os resultados desses levantamentos para influenciar na alocação dos
recursos e na formação de políticas e projetos públicos, tanto em nível nacional quanto local.
Depois de cinco conferências internacionais sobre FIB (respectivamente no Butão, Canadá, Tailândia e Brasil), e dos conjugados esforços do grupo orientador transnacional, as nove dimensões do FIB têm gerado um crescente interesse através do mundo, principalmente por conta da sua ênfase na promoção de um desenvolvimento holístico que harmonize as aspirações individuais com as nacionais.

(2) Deveria o FIB substituir o PIB enquanto uma medida de progresso
social?
Não. O FIB não foi formulado para substituir o PIB enquanto uma medida de progresso social, e sim para complementar uma versão revisada do PIB, que por sua vez tem sido usado desde a 2a Guerra Mundial como um indicador de tudo que é produzido num país em termos de bens e serviços.
O PIB acabou sendo usado como parâmetro de referência para se comparar o
desempenho econômico entre países e medir o progresso social. Contudo, nos anos mais recentes, o PIB tem sido fortemente criticado, uma vez que esse indicador não computa os custos dos danos ligados aos recursos ambientais, bem como outros fatores que afetam o bem-estar da humanidade e a sustentabilidade do meio-ambiente. Já o indicador FIB é uma medida
muito mais ampla, gerada por vários indicadores que perpassam nove domínios, e por isso provê um índice muito melhor para se avaliar o bem-estar da sociedade.
O prêmio Nobel em economia Joseph Stiglitz, presidente da Comissão para Mensuração do Progresso Econômico e Social, convocada pelo presidente da França Nicolas Sarkozy para identificar as limitações do PIB e avaliar a viabilidade de alternativas de mensuração, declarou que “Não há um único número que possa ser capaz de capturar algo tão complexo quanto a
nossa sociedade”. O relatório final dessa comissão advoga três diferentes conjuntos de indicadores para o progresso: uma revisada versão do PIB; indicadores objetivos para sustentabilidade ambiental; e indicadores para bem-estar e felicidade – este último, portanto, muito similar ao conceito de Felicidade Interna Bruta.

3) Esses nove dimensões foram categorizados no pequeno reino do
Himalaia, o Butão. Então será que tais domínios não seriam limitados
àquele país, ou será que eles de fato também podem ser usados nos
meios urbanos ocidentais ou em países pós-industrializados?
A idéia desses nove domínios do FIB – padrão de vida econômico, governança,
educação, saúde, vitalidade comunitária, resiliência ambiental, acesso à cultura, gerenciamento equilibrado do tempo e bem-estar psicolócio – na verdade foi desenvolvida por uma equipe de especialistas internacionais no campo das pesquisas sobre a felicidade, trabalhando em conjunto com o Centro para Estudos do Butão. Os fatores que contribuem para a felicidade humana são
os mesmos através de diversas culturas, conforme a ciência Hedônica (a ciência da felicidade) provou através de diversos estudos transnacionais. Algumas culturas podem colocar mais ou menos ênfase em diferentes indicadores, mas eles são universalmente comuns.
Disse o Rei do Butão, Jigme Khesar Namgyel Wangchuck, “Queremos fazer com que o mundo compreenda e aprecie que o FIB não é apenas algo enraizado na nossa cultura e nas nossas tradições, mas algo que está entre as necessidades e aspirações de cada pessoa, seja na nação mais rica, cercada de arranha-céus e tecnologia, ou no país mais pobre, trabalhando nos campos. O desenvolvimento e o progresso econômico que as nações buscam deve ser
direcionado ajudando esses indivíduos a se darem conta do seu potencial e metas comuns de felicidade e contentamento”. Dasho Karma Ura, o Presidente do Centro para Estudo do Butão, ressalta, “Os indicadores de FIB, assim como o próprio FIB, precisam ser bastante holísticos, e ter aplicabilidade não apenas no Butão, mas por todo o mundo”.

4) O conceito de Felicidade Interna Bruta (FIB) e o seu questionário
têm algum vínculo com alguma religião, especificamente com o
budismo, e com a cultura do Butão, onde esse conceito de originou?
A equipe de pesquisadores internacionais que desenvolveu as nove dimensões do FIB e seus respectivos indicadores, incluindo os especialistas butaneses budistas, sempre esteve motivada pela intenção de criar uma estrutura trans-cultural e com base empírica, não baseada em filosofia tradicional ou religião budista, e sim fundamentada em pesquisas científicas sobre felicidade que foram feitas através de várias culturas e crenças religiosas – algo que pudesse ser
genuinamente universal, e útil a todos os povos. Embora algumas perguntas do levantamento em Butão estejam relacionadas à cultura e tradição nacionais, a versão internacional, que foi desenvolvida no Canadá e revisada para o Brasil, é isenta de vínculos com quaisquer religiões ou culturas específicas, e universal na sua abordagem.

5) Afinal de contas, o que é felicidade?
Os pesquisadores sobre felicidade da “ciência da hedônica” definem a felicidade (algumas vezes chamada de “bem-estar subjetivo”) como a combinação de três aspectos: o grau e a freqüência de sentimentos positivas; o nível médio de satisfação que a pessoa reporta durante um período mais alongado de tempo; e o grau de ausência de sentimentos negativos, tais como depressão. Essa forma de definir a felicidade estabelece que a mesma deve ser um traço estável
no indivíduo, e não uma momentânea flutuação. Logo, a felicidade não é meramente definida como a ausência de sentimentos negativos, mas também a presença de sentimentos positivos.

6) Mas será que felicidade não é algo demasiado subjetivo para ser
medido? Felicidade pode ser medida estatisticamente? Por quê afinal
de contas precisamos de um indicador para a felicidade da população?
Até recentemente os cientistas sociais evitavam discutir o tema da felicidade porque eles acreditavam que seria muito difícil medi-la. Mas nos últimos anos as pesquisas hedônicas tiveram um crescimento dramático, com mais de 27 mil artigos publicados em jornais científicos apenas nos últimos 18 meses. Novas ferramentas, como Imageamento por Ressonância Magnética Funcional e mensurações de níveis hormonais, têm permitido que cientistas vejam
quais as áreas do cérebro que se tornam ativas sob determinadas circunstâncias, e quais os hormônios que são secretados quando alegamos estar nos sentindo felizes.
Logo, os cientistas atualmente medem a felicidade sob diversos ângulos: através de tomografia cerebral, eletromiografia facial, níveis hormonais, etc. E eles também fazem uso de questionários que avaliam o bem-estar subjetivo, cujos resultados são quase que uniformemente de acordo com os correlatos mais objetivos sobre a felicidade. Isso tudo dá aos cientistas a segurança de que a felicidade pode ser medida por indicadores subjetivos, e que esses levantamentos podem e devem ser usados apara mapear políticas públicas visando o bem-estar da sociedade.
Conforme o relatório da Comissão Sarkozy concluiu: “As pesquisas têm demonstrado que é possível coletar dados significativos e confiáveis tanto no bem-estar subjetivo quanto no objetivo. Medidas quantitativas desses aspectos subjetivos [como questionários] mantêm a promessa de gerar não apenas uma boa medida de qualidade de vida per se, mas também uma melhor compreensão dos seus determinantes, com um alcance além da renda e das condições materiais das pessoas. Por conta disso, os tipos de perguntas (nos questionários de bem-estar) devem ser incluídos em levantamentos de maior escala que sejam feitos por órgãos de
estatística oficiais”.

7) Mas então o FIB não passa de um indicador?
Não. FIB é muito mais do que um mero indicador ou de um questionário. O FIB é um catalisador de mudança, um processo de mobilização social em prol do bem-estar coletivo e do desenvolvimento sustentável. Também é um processo de conscientização das lideranças locais para a formação de parcerias entre os principais setores da sociedade: governo, empresas, cidadania e academia, vizando o bem-estar de todos.
O FIM começa como um indicador, mas o questionário é simplesmente a plataforma de lançamento para as discussões coletivas e para os articulados esforços, por meio de uma política governamental oficial de “cima para baixo” e de uma mobilização social de “baixo para cima”.

8) O que o ex-presidente da França, Nicolas Sarkozy, tem a ver com FIB?
O ex-presidente Sarkozy convocou uma comissão composta de sete prêmios Nobel em Economia, entre eles Joseph Stiglitz e Amartya Sen, para que revisasse o atual status dos indicadores sociais e econômicos usados na França, e também que fizesse novas recomendações. O relatório dessa comissão, publicado em setembro de 2009, advogou novos indicadores para a França – não apenas medidas de desempenho econômico, mas também de
sustentabilidade e de bem-estar. As recomendações da comissão no tocante às medidas de bem-estar replicam quase que fielmente as nove dimensões do FIB. Na verdade, o próprio Stiglitz declarou no lançamento do relatório da Comissão que, “A preocupação levantada pelo presidente Sarkozy e pela nossa comissão tem, não surpreendentemente, vibrado uma corda mundial. Há uma ressonância através do mundo. Mesmo antes do trabalho da Comissão, o Butão já estava trabalhando duro na criação de indicador FIB, Felicidade Interna Bruta”.

9) Mas como que um governo local poderia usar o FIB?
Uma vez que o questionário tenha sido ministrado numa comunidade, isso mobiliza um nível muito mais elevado de participação cidadã nas reuniões e no planejamento de ações futuras. Os questionários e os seus resultados, ao serem reportados para a população, gera um grande interesse e muito mais conscientização no tocante às forças e fraquezas da comunidade,
e aos recursos disponíveis e necessários. Isso salienta as áreas para remediação, de modo que os cidadãos e o poder público possam então trabalhar juntos para identificar os mais importantes planos de ação. O FIB é, portanto, uma poderosa ferramenta para aglutinar as pessoas com vistas a resolver seus problemas comuns e aumentar o seu bem-estar coletivo.
E os municípios também podem se beneficiar dessa ferramenta para testar, através de uma abordagem sistêmica e multidimensional, qualquer projeto de desenvolvimento proposto.
Ao se usar o FIB como uma ferramenta de triagem para analisar como um dado projeto, enquanto o mesmo ainda está na sua fase de planejamento, impactará no bem-estar geral, conflitos entre os nove domínios podem ser evitados mais tarde.

10) O Setor Privado pode fazer uso de indicadores FIB?
Sim, as empresas privadas podem usar os indicadores para avaliar e melhorar o bem-estar dos seus funcionários e dos stakeholders (todas as entidades afetadas pela atuação da empresa) no seu ambiente externo, incluindo clientes, fornecedores e a comunidade circunvizinha. As informações geradas pelo processo FIB são muito úteis para as empresas poderem melhorar suas relações com seus funcionários e clientes – gerando assim uma empresa com baixa rotatividade de mão-de-obra, alta satisfação por parte dos clientes e crescente produtividade e inovação (estudos têm mostrado que pessoas felizes são mais
produtivas, eficientes e criativas!).
No Brasil o Instituto Visão Futuro desenvolveu uma versão empresarial do questionário e um processo FIB para empresas, e começou uma parceria com a Natura Cosméticos e com a CEMIG (Companhia Energética de Minas Gerais), para aplicar o processo FIB com vistas a melhorar o desempenho dessas empresas nas nove dimensões. Nos EUA, a empresa Seventh Generation, uma
5das líderes no uso de produtos orgânicos, está trabalhando com o MIT (Massachussets Institute of Technology) para aplicar os princípios FIB.

11) Onde que o FIB está sendo aplicado atualmente?
O FIB está sendo aplicado ou desenvolvido em muitos países, incluindo Butão, Canadá, Tailândia, Japão, Reino Unido, EUA, França e Brasil. Existe uma ampla adoção desses princípios por parte das Nações Unidas e da OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico na Europa. O interesse no FIB está crescendo à medida que mais países estão buscando melhores meios para se medir o progresso social.

12) Por quê o FIB é importante para mim?
Refletir a respeito das fontes da nossa verdadeira felicidade pode ser um dos mais poderosos antídotos para a nossa atual angústia. Participar de um crescente movimento mundial em prol do progresso integrado de todos pode dar um profundo senso de significado às nossas vidas. E se aliar a outras pessoas que estão ativamente aumentando o bem-estar coletivo – nas nossas comunidades e nos nossos locais de trabalho – é, conforme os pesquisadores hedônicos têm provado, um dos melhores modos de aumentar o nosso próprio
bem-estar pessoal. Como alguém já disse, “Felicidade é um subproduto do esforço para se fazer alguém feliz”

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