Plantio na lama da SAMARCO. Arroz foi escolhido para experimento por se tratar de alimento básico para consumo humano e ser conhecido pelo acúmulo de substâncias tóxicas – Foto: Arquivo do pesquisador

Experimento: Cultivo na lama da SAMARCO

Arroz cultivado na lama da Samarco é mais pobre em nutrientes Experimento produziu grãos com baixos componentes tóxicos, mas com pouco rendimento e menor crescimento […]

Arroz cultivado na lama da Samarco é mais pobre em nutrientes

Experimento produziu grãos com baixos componentes tóxicos, mas com pouco rendimento e menor crescimento das raízes

Estudos preliminares em lama de resíduos da mineradora Samarco mostram baixas concentrações de substâncias tóxicas, mas também de nutrientes.

Estes são os primeiros resultados publicados por especialistas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP e da Universidade Federal do ABC (UFABC) sobre pesquisas que realizam com solo e lama do subdistrito de Bento Rodrigues, no município de Mariana (MG). Os resultados indicam que é possível o uso da terra afetada pelo desastre para agricultura e reflorestamento, desde que seja feita a correção do solo.

A equipe, liderada pelo professor Bruno Lemos Batista, do Centro de Ciências Naturais e Humanas da UFABC, esteve em Bento Rodrigues logo após o desastre de novembro de 2015, quando houve o rompimento da barragem do Fundão, e coletou amostras de solos, não atingidos pela lama, e de lama, vinda da barragem. Logo nas primeiras análises comparativas, para medir níveis de metais na lama, verificaram que ela era mais pobre que o solo natural da região, tanto em elementos tóxicos quanto em essenciais.

Essas informações agora foram confirmadas por testes com o cultivo de arroz. Como se trata de um alimento básico para o consumo humano, conhecido pelo acúmulo de substâncias tóxicas, os pesquisadores decidiram plantar arroz nas amostras de lama.

O professor afirma que o arroz pode acumular arsênio (As), chumbo (Pb), cádmio (Cd) e mercúrio (Hg). Sabendo que o desastre espalhou cerca de 50 milhões de metros cúbicos de resíduos de mineração de ferro no ambiente, incluindo rios e áreas agrícolas, “essa foi uma forma de verificar se a lama poderia contaminar os grãos”, argumenta Batista.

Baixo rendimento dos grãos

Desastre espalhou cerca de 50 milhões de metros cúbicos de resíduos de mineração de ferro no ambiente, incluindo rios e áreas agrícolas – Foto: Felipe Werneck – Ascom / Ibama via Fotos Públicas / CC BY-NC 2.0

 

Para os que acreditavam que a situação seria pior, as análises mostram que o arroz cultivado na lama residual da Samarco produziu grãos com baixos teores de As, Cd e Pb. Mas se os componentes tóxicos são baixos, o mesmo vale para os nutrientes. O pesquisador afirma que o “excesso de lama durante o cultivo reduziu o crescimento das raízes e o rendimento dos grãos”. Também ficaram menores, nos cultivos de lama, as quantidades de clorofilas e de carotenoides.

Considerando os parâmetros agronômicos do cultivo do arroz na lama de resíduos da mineradora, Batista conta que as alterações da planta estão relacionadas à deficiência de nutrientes e às propriedades físicas da lama. Para compensá-las, os pesquisadores adubaram o solo com matéria orgânica e utilizaram solo sedimentar, o que proporcionou melhores condições para o desenvolvimento das plantas.

Extrapolando os experimentos para a condição real do solo alagado de Bento Rodrigues, o especialista acredita que o fato de não terem encontrado metais potencialmente tóxicos nos grãos de arroz torna viáveis a agricultura e o reflorestamento na terra afetada pelo desastre, sendo necessária a correção do solo em relação a nutrientes e matéria orgânica. Mesmo assim, o professor lembra que cada planta tem necessidades diferentes.

As pesquisas do grupo receberam apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Os primeiros resultados, com relação aos metais tóxicos na lama, estão na edição de novembro de 2016 da Environmental Pollution. Já as recentes análises das plantações de muda de arroz na lama estão na revista Chemosphere de fevereiro de 2018.

Por Rita Stella – Editorias: Ciências Agrárias, Ciências Ambientais

Mais informações:  bruno.lemos@ufabc.edu.br  com Bruno Lemos Batista

Fonte: Jornal da USP

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